BEATRIZ E HELENA EM DISCURSO DIRECTO

A Agência Lusa emitiu hoje a entrevista a Beatriz Gomes e a Helena Rodrigues, as duas atletas do k2 nacional confirmado para os Jogos de Pequim. Dado que a entrevista será editada na Comunicação Social, divulgamo-la de forma completa.

Uma futura médica que estranhou a canoa quando remou pela primeira vez e uma professora universitária cujos alunos desconheciam o possível apuramento para Pequim integram a equipa feminina de pista que se estreia em Jogos Olímpicos.
"O apuramento era difícil, não era muito avisado andar a falar [aos alunos] de uma provável participação nos Jogos. É sempre melhor a surpresa do que a desilusão", disse Beatriz Gomes, professora assistente da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (FCDEF) da Universidade de Coimbra.
Nascida em Coimbra há 28 anos, Beatriz leva mais de metade dedicados à canoagem, onde começou por influência do pai, praticante habitual. A adolescência «apanhou-a» em Aveiro, altura em que, com 15 anos, integrou pela primeira vez a Selecção Nacional, mas, actualmente, vive em Montemor-o-Velho, para poder conciliar o treino da equipa nacional com as aulas na FCDEF.
Naquela vila do Baixo Mondego vive também Helena Rodrigues, 23 anos, que divide com Beatriz a embarcação de k2 que vai competir em Pequim, na prova de 500 metros. Natural da Madeira, Helena Rodrigues descobriu a canoagem aos 10 anos em actividades de Verão no Funchal, por indicação da mãe, "convencida que ia para o remo".
"Quando lá cheguei e vi a canoa, estranhei", recorda, divertida. Experimentou a natação, voleibol e ginástica, antes de se decidir pela canoagem e pela viagem para o continente, para o curso de fisioterapia, já concluído em Coimbra, e outro, de medicina, agora no início.
"Conciliar é muito difícil, este ano praticamente não fui as aulas. Estudo em casa [da Federação, onde reside] pelos apontamentos. Pensava que havia mais competição [com os colegas de curso], mas ajudam-me bastante e facilitam-me a vida", garante. Helena Rodrigues elogia o espírito de grupo entre os cerca de 20 atletas que ali residem, ainda que quatro anos de vida em comunidade, dividindo o quarto com duas colegas, "retirem privacidade".
"É massacrante acordar todos os dias e ver sempre as mesmas pessoas, não temos o nosso cantinho", refere. Por outro lado, o ritmo diário de aulas, períodos de estudo e treinos não deixa espaço à socialização: "Não tenho tempo", diz. No que sobra, em especial após as refeições, aproveita para ler "livros normais" que não os das disciplinas de Medicina, navegar pela internet e descansar.
Embora também viva em Montemor-o-Velho "perto da Selecção", Beatriz Gomes optou por residir em casa própria com o namorado, também ligado à canoagem. Elogia-lhe o apoio, extensível à Universidade, à Federação, "pela preocupação constante em nos dar boas condições", e ao treinador, o polaco Ryszard Hoppe. "Só assim e com disciplina e rigor é possível conciliar" a vida profissional e a canoagem", declara.
"Às vezes, o treinador deixa-me sair mais cedo do treino para poder estar a horas em Coimbra. Este ano, a Faculdade tentou ao máximo ajudar nos horários", revela. Acrescenta a amizade que une as quatro atletas femininas – para além de Beatriz e Helena, Teresa Portela também vai competir em Pequim, em k1, e Joana Sousa, apesar de não qualificada, segue viagem com a comitiva – manifestando a expectativa de uma boa participação nos Jogos.
"Criámos laços fortes e tem dado frutos. O objectivo de ir foi cumprido, queremos estar em boa forma para fazer um bom percurso", afirmou. A esperança de um bom resultado da canoagem feminina é extensível ao seleccionador nacional Ryszard Hoppe, que leva 37 anos de carreira como treinador de canoagem e, em Pequim, cumpre a quinta participação nos Jogos Olímpicos, iniciada em Moscovo, em 1980.
"Nunca vi um grupo com tanta motivação e disciplina. Têm todos os
valores para serem boas atletas", garantiu. Embora não adiante previsões, Ryszard Hoppe sustenta que Beatriz, Helena e Teresa "têm condições para ir à final", justificando: "Estas raparigas querem sempre mais. Às vezes até tenho que lhes refrear os ânimos, precisam de treinar sim, mas também de descansar".

Fonte e foto: Lusa

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