É a primeira grande entrevista do Notícias do Rio. Roberto Rodrigues, internacional que representa o CN Viana, explica como surgiu o «2-» com Bruno Amorim e afiança que a dupla tem condições para estar presente nos Jogos de Pequim. Essa opção valeu-lhe alguns sacrifícios, como a recusa de convites para exercer enfermagem e a mudança recente para o Porto.
Começa hoje mais um estágio das Selecções Nacionais e entre as tripulações que vão trabalhar no Pocinho está o «2-» de Roberto Rodrigues (CN Viana) e Bruno Amorim (SC Caminhense). A dupla transita do «4-» que, na última época, foi 19.º no Campeonato do Mundo, uma vez que a tripulação foi desfeita devido à saída de Júlio Seixo (SC Caminhense) por motivos profissionais, enquanto Paulo Quesado (Sport Clube do Porto) está em «stand-by».
Estas mudanças não tiram a confiança ao prôa Roberto Rodrigues, que optou por “fazer sacrifícios” pessoais em nome de um desejo antigo: “Neste momento, ainda tenho objectivos muito altos no remo. Quero lutar por um lugar nos Jogos Olímpicos. Ainda há lugares abertos para Pequim, por isso não é impossível”.
Essa meta é a principal motivação para o vianense, recém-licenciado em enfermagem, estar pelo terceiro ano consecutivo a representar as cores nacionais ao mais alto nível. “Entrei no remo muito pequeno, já há 14 anos, devido à influência do meu irmão mais velho. Na altura, ele foi experimentar, juntamente com uns amigos da família, e voltou todo entusiasmado a contar-me as histórias todas do que se tinha passado, de maneira que fiquei logo com vontade de também eu ir remar”, recorda.
Por gostar “muito deste desporto e do contacto com a água”, este remador de 23 anos que nunca representou outro clube além do CN Viana assume a opção pelo desafio. “Gosto de estabelecer metas e trabalhar para ultrapassar os obstáculos que possam estar entre mim e os meus objectivos”, reforça, justificando assim o facto de não estar a exercer enfermagem: “Ainda é muito complicado conciliar a alta competição com a vida profissional, sobretudo na área da saúde. No entanto, continuo a fazer formações na minha área, sempre conciliando com o remo, que me tem gasto muito tempo este ano e que, até ao apuramento, é a prioridade”.Resultado "enganador"
Embora prefira o skiff, onde já conquistou vários títulos, Roberto Rodrigues sente-se bem no «2-» e adianta que a motivação é igual à de quando tripulava o «4-»: “Lá fora, de uma boa prestação a uma má é um passo muito pequeno. No Mundial, andámos provas lado a lado com grandes equipas, já vimos que é possível termos um lugar nos Jogos. Podemos considerar que o 19.º lugar foi enganador para quem não nos viu, pois grandes selecções ficaram atrás de nós, como a Polónia, a Roménia e outras”.
Bruno Amorim já tinha sido um parceiro de treino “muitas vezes” antes de serem ambos chamados a esta tripulação, pelo que é fácil coordenar o trabalho. “Apesar de sermos rivais de clubes, somos amigos e entendemo-nos bem a treinar, adaptamo-nos um ao outro. Há pequenos pormenores em que temos de nos adaptar, mas com o treino está tudo a aperfeiçoar. O «2-» é um barco de muita sensibilidade e conseguimos encontrarmo-nos nesse ponto”, explica.
Porém, nem tudo é um «rio de rosas» e o vianense teve de se mudar para o Porto, onde Amorim é finalista de arquitectura. “Temos que fazer sacrifícios”, adianta Roberto Rodrigues, lembrando que isso também se estende à Federação: “Temos o problema do barco não ser adequado para nós, o que também prejudica um pouco os treinos. Precisamos de um barco de qualidade para o nosso peso, temos uma média de 90kg e, neste momento, remamos num barco emprestado pelo SC Caminhense que é para 70-85kg, é muito pequeno. A FPR tem que resolver isso o mais rápido possível, até para rentabilizar ao máximo o nosso treino”.
O remador tem crescido em vários escalões das equipas nacionais e pode orgulhar-se de, em júnior, ter sido quinto classificado no Campeonato do Mundo. Esta temporada, é o único pesado do CN Viana na Selecção, mas descarta que esse estatuto o torne numa referência dentro do clube: “Gostamos de manter um espírito de humildade no Náutico, quem tiver a pensar que vale mais do que os outros está a enganar-se. As equipas só funcionam assim, somos todos iguais em prol do clube”.
Além da humildade, também a abnegação é uma característica. Essa «teimosia» em perseguir a participação olímpica já levou o enfermeiro a recusar propostas de Espanha porque “o remo está em primeiro lugar”. Roberto Rodrigues não lamenta a opção, embora saliente “a dificuldade dos atletas em conciliar a modalidade com a vida profissional”, o que, por vezes, passa despercebido a quem de direito. “É preciso continuidades de anos de trabalho para que os resultados surjam”, afirma.
"QUERO UM LUGAR NOS JOGOS OLÍMPICOS"
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1 comentários:
Sou também remador da equipa nacional de remo tal como o Roberto, apesar de não pertencer-mos a mesma tripulação. Reconheço todos os sacrifícios que ele passa, também pela experiência de estar a passar por eles. Eu ainda sou estudante do 2º ano do curso de Educação Física e me vi obrigado a pôr os meus estudos um pouco de parte este ano devido a um objectivo muito grande e muito importante. Todos os remadores aqui presentes atravessam estes sacrifícios em busca desse mesmo objectivo, deixando muito da nossa vida pessoal para trás e dedicando quase todo o seu tempo ao remo. Veremos se todo este nosso esforço valerá a pena em Junho na Polónia e se finalmente Portugal terá atletas competindo numa das mais importantes modalidades olímpicas.
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