COMEÇA A CORRIDA PELOS JOGOS OLÍMPICOS

A náutica portuguesa começa, finalmente, a disputar as últimas vagas de acesso aos Jogos Olímpicos de 2008. O slalom, especialidade da canoagem, dá a largada com dois miúdos de Amarante, Ivan Silva e José Carvalho, canoístas que representam o Águas Bravas Clube (ABC).

Os campeões nacionais Ivan Silva (K1) e José Carvalho (C1) lutam a partir de quinta-feira (08/05) por uma vaga em Pequim 2008 nos Europeus de slalom, que decorrem até domingo em Cracóvia, Polónia.
Ivan Silva (20 anos) e José Carvalho (19 anos) têm disponíveis apenas duas vagas nas respectivas competições: cada país pode apurar somente um representante, mas as nações que já garantiram o lugar não entram nas contas da derradeira oportunidade de qualificação para os Jogos Olímpicos. "Nos Mundiais de 2007, estiveram perto do apuramento. José Carvalho foi 16.º por países e Ivan Silva 21.º. Cada um deles vai debater-se com uns quatro países com atletas de nível um pouco superior, mas têm valor para atingir o objectivo", explicou o presidente da Federação Portuguesa de Canoagem. De qualquer forma, Miguel Santos considera que tudo está em aberto, "pois no slalom conta muito o momento e alguma inspiração", argumentando: "É uma prova que não admite falhas, pois o mínimo erro pode representar uma queda de 20 lugares na classificação".
"Ambos são bons, humildes e com grande capacidade de sacrifício. Têm um sonho e estão altamente motivados. Para colmatar as deficiências de locais de treino em Portugal, a Federação deu-lhes todas as condições para triunfar. Fizeram vários estágios no local da prova e treinam com um técnico que conhece bem a pista", prosseguiu o dirigente. Miguel Santos considera que o apuramento de um destes atletas para Pequim 2008 seria "determinante" para a evolução da especialidade, em que Portugal esteve representado nos Jogos Olímpicos Barcelona 1992, Atlanta 1996 e Sidnei 2000 por Florence Ferreira, emigrante em França. No slalom, cada atleta realiza, em sistema de contra-relógio, um percurso de 20 «portas» suspensas sobre o plano de água, que normalmente é artificial. O resultado final é obtido pelo somatório dos tempos nas duas mangas mais as penalizações resultantes da transposição incorrecta das portas. "É uma modalidade espectacular que exige grandes infra-estruturas para ser praticado e treinado. Para ser um desporto com grande impacto e muitos atletas só precisa do reconhecimento do público em geral, pois é visualmente fantástico, o segundo mais visto nas televisões mundiais em Atenas 2004", concluiu. As eliminatórias de c1 disputam-se quinta-feira de manhã e as de k1 à tarde. No sítio da Federação está uma ligação ao portal oficial da competição.

Modalidade "na moda"
Uma amizade de infância solidificada nas águas bravas do Rio Tâmega, em Amarante, enraizou em Ivan Silva (K1) e José Carvalho (C1) o sonho de ir aos Jogos Olímpicos. Com 20 e 19 anos, respectivamente, os atletas do ABC começam a lutar quinta-feira pelo "sonho de sempre" de ir a Pequim 2008, tendo de aproveitar as duas vagas nos Europeus de Cracóvia, Polónia: em conjunto, querem ajudar o slalom a tornar-se uma modalidade na "moda" em Portugal.
"Tenho seis fortes concorrentes. Vai ser uma luta renhida para ir a Pequim, mas estou determinado a triunfar, atingir um sonho que há muito alimento", disse Ivan Silva, campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal desde 2004. José Carvalho, que a nível interno também assumiu a hegemonia em 2004, com apenas 15 anos, identifica "cinco fortes rivais" que se interpõem ao sonho, mas confia que a "motivação e boa preparação" o levarão ao êxito. Ivan Silva assume-se como um atleta "humilde, com forte espírito de sacrifício e nível técnico considerável", admitindo que a principal dificuldade vai ser mostrar o que sabe "sem qualquer penalidade até fim de cada manga". O amigo José Carvalho, que também se iniciou no slalom por volta dos sete anos, revela-se "um atleta determinado a vencer, com garra e que nunca desiste", e identifica a ausência em Portugal de condições de trabalho semelhantes às dos rivais como o maior obstáculo.
Conciliar estudos e slalom tem sido tarefa árdua para ambos, principalmente para Ivan, já na universidade, a estudar desporto no Porto, a 60 quilómetros do local de treino. "Faço diariamente 120 quilómetros para estudar e ainda tenho de treinar. É muito duro, mas, para já, só em Amarante tenho condições mínimas para praticar, com «portas» suspensas no Rio Tâmega", queixou-se. Este Verão vai nascer em Fridão, Amarante, o primeiro centro de estágio português em águas bravas - "chega um pouco tarde para Pequim" - numa nova infra-estrutura que os jovens esperam que venha a contribuir para um novo impulso ao slalom.

Fonte: Lusa