FRAGA E MENDES SENTEM-SE SÓS

Pedro Fraga e Nuno Mendes voltaram a colocar o remo na ferida e, já em Pequim, confessam estar desagradados com o acompanhamento Federativo.

Pedro Fraga e Nuno Mendes, que acabaram com uma ausência de 12 anos do remo português em Jogos Olímpicos, foram obrigados a ir para Pequim com José Santos, o director técnico nacional (DTN) responsável pela sua exclusão por duas vezes da Selecção.
A insólita situação contraria "completamente" a vontade dos vice-campeões do mundo Sub-23 em 2004 e 2005, que tudo fizeram para que fosse um dos seus três treinadores a acompanhá-los, esbarrando na intransigência da Federação, bem como na inépcia do Comité Olímpico de Portugal: "estamos aqui sós, por nossa conta".
"Quando soubemos que não vinha qualquer dos nossos treinadores, ficámos desorientados, mas somos fortes e ao longo do estágio de preparação fomo-nos mentalizando que ia ser assim e estamos preparados para sobreviver sozinhos", resumiu Pedro Fraga. O afastamento da Selecção foi lamentado: "explicaram a nossa exclusão com o facto de não trabalharmos com a equipa nacional – não o fizemos porque víamos que era uma casa que ia ruir – e que não nos enquadrávamos no grupo, com a filosofia de trabalho deles".
"Nos Mundiais de 2007 falhámos o apuramento por apenas dois lugares. Excluíram-nos logo aí da Selecção e nem nos levaram aos Europeus, nos quais tínhamos boas hipóteses. Nem apostaram em nós para a qualificação deste ano", recorda.
O DTN José Santos justificou a presença em Pequim com o facto da pré-acreditação já ter sido feita há algum tempo em seu nome e não ser possível alterá-la, considerando ainda que "nesta altura não faz sentido falar das divergências passadas".
"Houve sensibilidades diferentes de entendimento em relação ao que é um projecto nacional. Entendíamos um processo nacional de uma outra forma, com perspectivas distintas. Mas agora o importante é haver estabilidade para que tudo corra bem na competição", explicou.
Nuno Mendes revela que a dupla trouxe para a China um plano de treinos elaborado pelos treinadores Jorge Cardoso, Eduardo Oliveira e Rob de Rooij, que nas provas internacionais em que a Federação é representada nem conseguem credenciais – "temos de conversar num bar exterior" –, mas considera que isso é insuficiente. "E se as coisas correm mal? Se a estratégia falha? Quem nos auxilia? Estamos sós", lamentou.
Nuno Mendes falou da mágoa do doublescull ligeiro: "Como queríamos ser acompanhados pelos nossos técnicos, tentámos falar desta situação com Vicente Moura [presidente do COP], mas não conseguimos passar da secretária. O COP sabe das coisas, mas não fez nada. Os atletas são a alma do espírito olímpico, mas parece que somos quem menos conta".
Jorge Cardoso é o treinador de sempre no Sport Club do Porto, Eduardo Oliveira (doutorado em desporto) trata da parte do treino fisiológico desde 2004 e o holandês Robert de Rooij tem sido desde 2007 o treinador que os acompanha na pista Montemor-o-Velho. O resto da Selecção, com resultados internacionais modestos, evolui sob a orientação de José Santos no Pocinho.
"Face aos nossos resultados, o projecto Pequim2008 do COP dá-nos 750 euros. Quem nos treina também tem direito à verba, mas nenhum dos nossos treinadores alguma vez viu um euro sequer. O processo é dirigido via Federação e só eles sabem quem está a receber", prosseguiu Mendes.
A este propósito, José Santos diz ter a "ideia" de que algum dos treinadores da dupla teria recebido a verba, mas admitiu desconhecer o assunto na especificidade. Pedro Fraga recorda ainda que toda esta situação é "pública, mas pouco mediatizada": "a Federação teve esta atitude lamentável connosco, mas, com o nosso apuramento, é ela quem está a beneficiar de tudo".
Apesar de tudo, a dupla elogia a forma como o trio se está a comportar em Pequim – "não há conflitos, a relação pessoal tem sido óptima" – e revelou que o próprio chefe de missão de Portugal, Manuel Boa de Jesus, teve uma reunião com a comitiva do remo. "Disse-nos que tem conhecimento de tudo o que se passa. Tentou apaziguar uma possível hostilidade. Falou que agora estamos cá só os três e que não há volta a dar. Que o melhor será mesmo trabalhar da melhor forma para o bem de Portugal", revelaram.
José Santos destaca que nunca houve problemas de relacionamento entre si e os atletas, mas apenas distintas perspectivas quanto ao projecto do remo. Pedro Fraga e Nuno Mendes concluíram: "Esquecemos o que se passou, a atitude [de José Santos], mas nunca a postura da Federação, que tem todas as responsabilidades na gestão da modalidade".

Fonte: Agência Lusa

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