"UMA CHAPADA DE LUVA BRANCA"

Ainda não é a entrevista que todos esperavam (está para breve), mas são as primeiras declarações de Nuno Mendes e de Pedro Fraga após a chegada a Portugal, consumado o apuramento olímpico. Os dois atletas do Sport traçam um breve resumo de um projecto de quatro anos que culminou com "uma bofetada de luva branca" em quem não acreditou no sonho olímpico.

Foi o culminar de quatro anos de trabalho?
Nuno Mendes (NM) – Sim, foram quatro anos de trabalho. Começámos no Campeonato do Mundo de Sub-23, competição de inferior nível, mas continuámos os dois juntos, com ajuda do clube e de outras pessoas que nos ajudaram bastante, culminando neste resultado.

A eliminatória não correu bem, mas conseguiram melhorar daí em diante...
Pedro Fraga (PF) – É o nosso perfil, a nossa maneira de treinar é assim. A primeira prova não nos correu bem, mas acreditámos sempre e unimo-nos ainda mais. Ao longo das provas, fomos ganhando confiança e, na final, sabíamos que o objectivo era tentar ir ali junto deles para no fim, à semelhança dos últimos quatro anos, aproveitarmos a nossa ponta muito forte. Acreditámos, estávamos ali tão perto do sonho que fomos buscar forças onde elas nem existiam.

Como é que foi treinarem sem apoios?
PF – Com o investimento de pessoas que não têm directamente a haver com a modalidade. Trabalhámos com muitos sacrifícios e abdicámos de muita coisa. Este ano desempreguei-me para treinar com o Nuno, porque desde Setembro do ano passado perdemos a bolsa e o apoio do Comité Olímpico, após o resultado no Campeonato do Mundo, que até foi bom, ficámos a dois lugares do apuramento. Continuámos a acreditar que podíamos recuperar esses dois lugares e treinámos este ano muito a sério, todos os dias de manhã e de tarde, com o apoio do nosso clube, do Eduardo, do senhor Jorge, do Rob, de todas as pessoas, como os meus pais, que suportaram este tempo, e a minha namorada, que me aturou e suportou durante este tempo todo... Estamos aqui por eles e por nós.

Foi a melhor resposta a quem vos expulsou duas vezes da Selecção?
NM – Foi uma chapada de luva branca, porque nesta prova demonstrámos verdadeiramente o nosso espírito de lutador. O resultado é o culminar dessa luta que tivemos, durante estes quatro anos de preparação, contra tudo e contra todos.

Os Jogos deixaram de ser um sonho e passaram a ser uma realidade. Já pensaram nisso?
PF – Ainda não, vamos agora começar a preparar isso para dignificar o melhor possível o remo português, que esteve de jejum dos Jogos durante 12 anos. Temos de ser realistas, fomos das últimas equipas apuradas. A maior parte das equipas que estão lá têm, neste momento, um valor superior ao nosso, mas vamos aproveitar este momento para surgirmos embalados e tentar chegar às meias-finais. Vamos dar o máximo.

Como se vão preparar até lá?
PF – Treinámos sempre à nossa maneira, com o clube, por isso gostávamos de continuar a trabalhar da mesma forma, foi assim que conseguimos resultados. É claro que para isso houve um investimento financeiro de terceiros, que neste momento pode ser suportado pelo Comité Olímpico ou pela Federação.

Gostariam de levar um treinador [do clube]?
PF – Nós temos sempre treinador, mas gostávamos de ter um treinador que desse a cara e nos acompanhasse em todos os momentos, que estivesse sempre ao nosso lado.


Nota de rodapé: o blogue ultrapassou as 6.000 visitas entre as declarações dos familiares e as dos atletas. No jantar de homenagem, o seccionista do Sport pediu aos atletas uma medalha em Londres 2012. Ficámos também a saber que ambos consultaram o NdR durante a estadia em Poznan, mas não podiam comentar a fim de não se desconcentrarem. Mesmo que nos próximos dias não comentem, prometemos continuar a acompanhar, embora com uma condição: exigimos (no mínimo) a final B nos Jogos Olímpicos de Pequim.